Vodka, amor e dor.




















   Ela pediu vodka, veio amor. Ela pediu sacanagem naquela noite fria, e ele apareceu.
Com aquele maldito casaco cheiroso que cobria os dois, para assistirem um filmes
juntos debaixo do cobertor. Ela queria um caso, ele lhe deu uma aliança. Aquele coração
duro e inabalável sorriu pela primeira vez quando alguém disse baixinho que os dois
formavam um belo casal. Ela pediu solidão, ele veio de brinde. “Pra que serve querer
ficar sozinha se você não me deixa em paz?”, ela perguntou, impaciente. Ele a abraçou
por trás e disse que ela era o amor da vida dele, e mesmo que ela não admitisse, sabia
que a necessidade era recíproca. Ela quis fugir, ele trancou as portas. Ela quis mentir
que não sabia de nada, ele fez ela enfrentar a realidade. Não passou muito tempo e
acabou se acostumando com cada telefonema curto pela manhã, desejando um longo
dia pela frente. Se acostumou com os jantares festivos, a família reunida, os pais desejando
um casamento. Se acostumou a ligar para ele de madrugada para contar aquele pesadelo
horrível, e abrir a porta uma hora depois para ele fazê-la dormir. O coração deu espaço 
para umas batidas a mais, que não cessavam quando ele via nela tudo o que queria. 
O estômago começou a abrigar uma sensação estranha de contração quando ela pensava 
que ele poderia ir embora. Tudo ficaria escuro, sem sentido. Ela pediu que ele ficasse mais
um pouco, e ele ficou, Tirou seus amigos, arrancou conversas de bar, aparou alguns 
hobbies e fez dele seu prisioneiro. Ele reclamava do laço apertado, ela amarrava o seu 
nó um pouco mais. Começava a delirar, a pensar nele todos os dias, querê-lo por perto, pra
dizer que amava-o, mas não suportava a ideia de vê-lo com outras pessoas. Algo tão 
profundo e forte inteirou-se dentro dela. Não era fácil de lidar, nem muito menos de conseguir 
mudar a situação. Ela desejou que aquele sentimento de posse fosse embora, que as 
mentiras que ela contava para que ele ficasse um pouco mais, dessem certo. Ele avisou, 
disse que amava. Ela chorou, gritou que não. Os dois brigaram, decidiram se separar e 
voltaram um dia depois. Sexo, cama, travesseiro, cigarros e brigas depois de cinco minutos. 
Ela queria ser única e se resumir na vida inteira dele. Ele queria ela para sempre, 
mas não suportava mais olhar para ela e se sentir culpado. Decidiu que tinha falado demais. 
Não a amava para sempre, não achava mais que a história dos dois era sua vida, não 
queria entender mais o lado dela. Saiu de sua vida, e ela se assustou com a 
rapidez que perdeu o chão. Ele não tinha mais motivos e ela, não tinha mais nada. Pediu 
amor, veio a vodka…

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